domingo, 18 de setembro de 2011

A INFÂNCIA DE TARJA PRETA


Na Cidade Nua de rusa sem vaidade, sem distinção de classe, crédulo, raça ou ideologia onde a infancia é apenas:  A INFÂNCIA DE TARJA PRETA
Sem cores sem vaidade a violência perambula ao seu redor, espreita feito algoz implacável uma vida em preto e branco que se inicia, na Cidade Nua.
Seu pseudônimo é Cabelo, tem apenas três anos de vida, menino esperto e muito falante de uma família de três; um irmão pouco mais velho filho de outro pai e uma menina que esta para chegar a julgar pelo tamanho da barriga da jovem mãe cuja idade não chega aos 30, filha de um terceiro pai que ela nem imagina quem possa ser. Gravidez sem planejamento algum fruto das bagunças de uma noite qualquer em um lugar qualquer das praias sem sal da capital tocantinense.
Como ela mesma diz:
“Essas coisas acontecem, a gente toma uma cerveja, sai com um cabra e quando vai ver da nisso”.


Rosilda mãe dos três mora em um cortiço bancado por alguém que chama pelo apelido de Junior e sequer sabe seu nome completo, presta favores e se da aos prazeres até que a generosidade de seu desconhecido se esgote.
Em uma dessas tardes infernais do calor da cidade cabelo e seu irmão mais velho se encantam com o novo vizinho que exibe orgulhoso uma bicicleta novinha em folha, o garoto, talvez uns três anos que Cabelo acaba de chegar com a família lá dos confins do Pernambuco e vão morar provisoriamente no mesmo cortiço que a família de cabelo. Enquanto o irmão acaricia o guidom da bicicleta Cabelo faz provocações ao novato com ar de arrogância: Vai peitá ? Vai peitá ? Empurrando-o na altura das pernas por não alcançar com seu tamanho, o peito do garoto que resmunga chamando por sua mãe.
“Você num da conta dele não Cabelo, desse tamanho ai, tu só da conta na peixeira mesmo” - ensina o mais velho à jovem criança.
“Faça como mainha faz quando alguém boli com ela! ” - completa o menino.
Os vizinhos provisórios já se foram e, em uma nova tarde, não menos castigada pelo calor infernal, Cabelo se vai de mãos dadas com a mãe, na inocência de sua infância; sem bagagens, sem pertences, simplesmente se vão, Rosilda ainda leva na barriga a irmãzinha que vai nascer já seu irmão não foi mais visto junto aos três. Em algum cortiço por ai, três novos moradores estão prestes a chegar. Até que a generosidade de um outro alguém se corrompa, como à infância em tarja negra que se emana da violência da Cidade Nua.
Claudio Gonçalves 
da coleção Estas e outras Historias da Cidade Nua.
Foto: Claudio Gonçalves

Nenhum comentário: